Projeto de divulgação da memória do Marabaixo, maior tradição cultural do Amapá

domingo, 2 de outubro de 2016

Exposição "As Tias do Marabaixo", dois anos depois

Fotos: Prsni Nascimento -15.9.14


No dia 15 de setembro, completaram dois anos da abertura da exposição As Tias do Marabaixo no Amapá Garden Shopping (Macapá). A mostra reuniu 16 fotografias de minha autoria e esteve aberta ao público durante todo o horário de funcionamento do shopping, até o final do mês de setembro de 2014 - ou seja, 16 dias ininterruptos. 

É sem dúvida alguma o ponto alto até aqui da minha carreira como fotógrafo. Já defini este evento certa vez como a maior homenagem que já recebi (uma homenagem, aliás, no qual eu presto também a minha homenagem às Tias Biló, Chiquinha, Zefa, Zezé e à dona Natalina). 

Não foi a primeira exibição pública das fotos que fiz durante as filmagens das entrevistas com as Tias (realizadas em maio e junho de 2014 e filmadas pela equipe da Graphite Comunicação, que contratei). A exposição já havia sido mostrada em agosto no Barracão Dona Gertrudes do Berço do Marabaixo e na Escola Estadual Oneide Pinto Lima. Cheguei a propor à gerência de Marketing do shopping que fossem usados os banners que já estavam prontos, porém não foi difícil para Kelly Paulino, que me formulou o convite para expor, me mostrar que este material ficaria meio 'diluído' num espaço grande como os corredores do Garden. Por esse motivo, o shopping bancou o custo de novas ampliações das imagens, em papel fotográfico, sem adicionar seu logotipo ou qualquer outra coisa às fotos, e me presenteando com estas cópias ao final da mostra. Um gesto raro vindo de uma empresa, temos que convir.

Aliás, como um todo, a proposta do estabelecimento era muito além das minhas melhores expectativas - simplesmente foi criado um ambiente dentro do shopping para a exposição.  Quem chegava pela entrada principal primeiro via o cartaz (foto ao lado - a imagem escolhida apresenta Tia Chiquinha ao lado da dançadeira Laís Maciel) e mais adiante, ao final do corredor, encontrava o balcão onde posei para a foto feita pela amiga de sempre Prsni Nascimento, mais dois manequins (um adulto e um infantil) com roupas das dançadeiras do Marabaixo, cedidas por Celia Ayres, e as fotos, fixadas em cavaletes de madeira, cada uma com sua respectiva legenda, e sem nada mais que desviasse a atenção das imagens. Sobre o balcão havia ainda o livro de assinaturas dos visitantes, um manequim com uma das camisas das Tias (as camisas estavam à venda desde agosto; a princípio achei que a exposição iria impulsionar as vendas, mas só uma camisa foi vendida, e ainda assim no último dia) e os cartões-postais, outro presente que recebi do Amapá Garden. Os postais foram uma ideia da própria Kelly, que no dia da reunião onde combinamos tudo sobre a exposição, em 13 de agosto, já tinha prontos alguns modelos. No total, foram 5, que durante o período da mostra eram trocados por notas de compras dentro do shopping.


Kelly Paulino com os postais em homenagem
a Tia Zefa (à esquerda) e Natalina

Procurei estar todos os dias, ao menos por algumas horas, no shopping durante o período da exposição. Recebi a visita de algumas escolas e de duas turmas da Unifap (a Universidade Federal do Amapá, localizada exatamente em frente ao Garden), das professoras Piedade Lino Videira (autora de um importante livro sobre o Marabaixo, lançado em 2009: Marabaixo, dança afrodescendente: significando a identidade étnica do negro amapaense) e Íris Moraes. Várias equipes de reportagem também estiveram no local, seja me entrevistando, seja captando imagens. 

Porém nenhuma visita foi mais importante do que a de três das próprias homenageadas. Tia Zezé esteve presente na abertura (foto acima).

Posteriormente, também foram conferir a exposição as famílias de Tia Zefa e Natalina. 

Josefa Ramos e Tia Zefa - visita à exposição 
em 21.9.14 (Foto: Fabio Gomes)

Natalina apreciando o postal com  sua foto
- 28.9.14 (Foto: Fabio Gomes)


Após o final desta exposição, as fotos encomendadas pelo Garden não foram mais exibidas publicamente. Nas mostras seguintes - tanto aqui em Macapá, na Fortaleza de São José de Macapá e nas escolas estaduais Cecilia Pinto e Raimunda Virgolino, além da Unifap e do Centro Cultural Tia Biló; quanto na itinerância por Tocantins, Bahia e Rondônia -, os visitantes tiveram contato com os banners originais, que têm a vantagem de já terem impressa junto a cada imagem a sua respectiva legenda. 

Tenho certeza que a realização desta exposição, em especial nesse momento em que eu recém acabara de filmar as entrevistas, foi fundamental para a grande repercussão que o projeto As Tias do Marabaixo ganhou junto à sociedade macapaense, gerando mais adiante desdobramentos como o lançamento de uma série de cinco curtas-metragens, em 2015, já exibidos no Amapá, Tocantins, Bahia, Rondônia e Pará (além de mostrados parcialmente em emissoras de televisão do Amapá e do Pará) e o projeto do livro com uma seleção de fotos que fiz de festas de Marabaixo de 2013 até 2016. Estou trabalhando na finalização do livro; a edição propriamente dita depende da captação de valores, mas acredito que ele possa ser lançado até o próximo ano. O projeto será concluído com o lançamento do documentário de longa-metragem, que irá contar com material captado entre 2012 e 2016. Devido ao custo de finalização de um longa ser bastante elevado, não há como estimar no momento uma data para o lançamento deste filme. 

  • Para ver todas as imagens que fazem parte da exposição itinerante As Tias do Marabaixo, clique aqui.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Tia Biló em noite inspirada na Quarta da Murta do Laguinho (veja vídeo)

Quem frequenta as festas de Marabaixo no Centro Cultural Tia Biló, à rua Eliezer Levy, quase esquina José Tupinambá, no bairro do Laguinho, em Macapá, já se acostumou a ver a própria Tia Biló, 91 anos, acompanhando a festa, sentada em sua cadeira junto à parede da sala onde ficam guardadas as coroas do Divino Espírito Santo e da Santíssima Trindade. Sempre elegante, com sua flor no cabelo e vestida com as cores escolhidas pela Associação Cultural Raimundo Ladislau para as festas de cada ano, raramente Tia Biló aproveita o momento da festa para entoar ladrões de Marabaixo. Uma das ocasiões recentes em que isso aconteceu, aliás, coincidiu com minha presença junto com a equipe da Graphite Comunicação, em pleno encerramento do Ciclo do Marabaixo de 2014, e deu origem a meu curta-metragem Tia Biló, incluído no ano passado no acervo itinerante do FestCineAmazônia, de Porto Velho. 

Por isso, foi uma grande surpresa quando ontem, após cantar "É de manhã, é de madrugada", o mesmo ladrão registrado no curta, Tia Biló seguiu cantando uma verdadeira antologia de clássicos do Marabaixo, ao longo de quase duas horas - passava um pouco das 19h30 quando ela começou a cantar, e só por volta de 21h30 seu bisneto, Iury Soledade, assumiu o comando da roda. O feito é notável sob todos os aspectos, afinal estamos falando de uma pioneira do Marabaixo no tradicional bairro do Laguinho; única filha viva de Mestre Julião Ramos, Benedita Guilherma Ramos há 57 anos comanda, nessa mesma casa, os festejos do Ciclo do Marabaixo. 

Durante todo o tempo que tia Biló cantou, numa noite de Quarta-Feira da Murta do Divino Espírito Santo (festa que só acaba ao amanhecer, com o levantamento do mastro em honra ao Divino), os tocadores da Associação Raimundo Ladislau e os da visitante Associação Raízes da Favela permaneceram em volta da cadeira da matriarca, dispostos num semicírculo, claramente indicando uma deferência ao momento tão especial, já que o usual é que os tocadores, juntamente com dançadores e dançadeiras, dancem em círculos pelo salão, no sentido anti-horário. Outra providência adotada especialmente para o momento ímpar foi o cadenciamento das caixas de Marabaixo, que eram tocadas mais suavemente enquanto Biló cantava os versos dos ladrões, e mais forte no momento em que cantadores como Munjoca Ramos, Alan Cruz, Iury Soledade, Wendel Santos, Fábio Sacaca, Cássia Pechorz e até a ultrajovem Victória Congó (5 anos) respondiam no coro. 

Entre os sucessos interpretados por Tia Biló, podemos citar "Aonde Tu Vai, Rapaz?", "Irmã Catita", "Lírio Roxo", "Nêgo" e "Guadariõ - nestes últimos, Iury começou a dividir o vocal com sua bisavó, vindo em seguida a assumir o comando da roda, já no formato tradicional que é tão peculiar do Marabaixo em que cantadores, tocadores e dançadeiras rodam continuamente (em outras danças, o mais comum é que quem toca não dance ao mesmo tempo). 

Ao longo destas duas horas, várias pessoas estiveram gravando ao menos parte do canto de Biló - até uma equipe de reportagem da TV Amapá se fez presente em dado momento. Das 1h15 que gravei em vídeo (até que a imprevisível bateria da minha filmadora de bolso me deixou na mão, quando então recorri ao gravador de voz de meu celular), selecionei para dividir com vocês hoje este momento em que Tia Biló canta um ladrão de sua madrinha, Tia Zefa, que há pouco, em 26 de fevereiro, completou 100 anos (sim!!) - trata-se de "Mamãe, Minha Rica Mãe". Uma bela amostra de uma noite que não será esquecida tão cedo! 




Clique na imagem

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Curtas foram exibidos em aula de História da Unifap

 Foto: Fabio Gomes

Agora pela manhã, estive palestrando sobre o projeto As Tias do Marabaixo para alunos do curso de História da Universidade Federal do Amapá (Unifap), a convite da professora Iris Moraes. Exibi quatro dos curtas lançados no ano passado (o filme sobre Tia Chiquinha será mostrado durante a apresentação de um trabalho de alunos sobre tradições afro-amapaenses). Foi a primeira vez que estive em uma universidade com evento do projeto (anteriormente, alunos da própria Iris e também da professora Piedade Lino Videira, também da Unifap, haviam visitado a exposição de fotos realizada no Amapá Garden Shopping, em setembro de 2014). 

Tive a felicidade de encontrar nesta manhã uma plateia atenta e interessada, que fez muitas perguntas, querendo saber sobre as discriminações que o Marabaixo sofre ainda hoje, aspectos de sua evolução histórica e ainda as diferenças do Marabaixo e do Batuque, entre outros temas. Vários alunos manifestaram a preocupação por não ver uma maior presença do Marabaixo e outras manifestações culturais populares nos currículos das escolas do estado.  



A estes futuros professores de História, tive o prazer de apresentar em primeira mão algumas páginas do livro As Tias do Marabaixo, que se encontra em fase de edição, com lançamento previsto para o primeiro semestre deste ano (na foto ao lado, o logotipo do livro). Comentei também sobre as recentes descobertas que fiz acerca das antigas festas de Marabaixo na localidade de Marabitanas, no interior do Amazonas - ao que tudo indica, tais festas já não existem atualmente no local. 

As fotos em que eu apareço são de autoria de Letícia Santos.